domingo, 19 de outubro de 2008

Onde está a política de saúde mental?

Associação Brasileira de Psiquiatria revela que há cerca de 1 milhão de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos precisando de tratamento médico devido à dependência de álcool e drogas

De Paloma Oliveto:

“Quando fumo maconha, fico mais tranqüilo, leve, lerdo. O olho fica baixo, é cabuloso. Já com o thinner, eu fico mais agitado. Mas é rápido. Tô cheirando aqui, e quando morre a bucha, morre o efeito. Quando tô cheio de thinner, não lembro de nada que acontece. Já me interessei pelo bagulho e pedi para dar uns tecos. Gostei. O pó deixa a língua dormente, você fica ligado. De vez em quando eu cheiro. De vez em quando eu fumo crack. Eu gosto só da branquinha mesmo, a amarela deixa o cara doido.”

Quem diz isso é um adolescente de 16 anos, dependente químico desde os 12. Talvez por causa do consumo abusivo de drogas, ele seja tão franzino. Tem a pele amarelada e os dedos queimados pelo manuseio das pedras de crack. Para manter o vício, rouba dentro de casa e assalta na rua. “Na cara dura, usando faca”, relata. Ameaçado de morte por rivais, ele garante que quer parar. “Quero me tratar, sair dessa vida. Mas não é fácil não. Sem a droga, fico agoniado. Mexe com o psicológico do cara, a gente só pensa besteira.” Ele não sabe quando isso vai acontecer. Desde que percebeu que o filho era usuário, a mãe do rapaz busca ajuda na rede pública. E ainda aguarda uma resposta.

Fabiano faz parte de um universo de 1 milhão de crianças e adolescentes brasileiros entre 6 e 17 anos que apresentam sintomas de dependência química — álcool e drogas — a ponto de os pais procurarem tratamento. O dado é da Associação Brasileira de Psiquiatria, que encomendou uma pesquisa ao Ibope realizada em todas as regiões do país. Quem tem dinheiro apela para clínicas particulares. Já os pobres enfrentam mais dificuldades: o estudo mostrou que 60% das famílias que buscaram ajuda não conseguiram tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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