Espero
que Deus me fulmine antes com um raio, daqueles que eram muito comuns no Velho
Testamento — sem chance para apelo a instância inferior (já que se tratava de
uma decisão do Supremo) —, se, algum dia, eu me sentir tentado a censurar um
juiz por ter cumprido a sua função só para proteger um partido da minha
predileção.
A
que me refiro? Leio colunistas isentos como militantes do Talibã a condenar o
juiz Sérgio Moro por ter autorizado a divulgação do depoimento de Paulo Roberto
Costa, que não estava protegido pelo sigilo de justiça. Um desses colunistas
chega a afirmar que o Moro poderia ter esperado mais três semanas. A afirmação
é explícita, é arreganhada: o sujeito acha que a ignorância do que lá foi dito
faria bem ao brasileiro. Desligadas as urnas, então o eleitor ficaria sabendo:
“Ah, então, dos 3% da propina, 2% iam para o PT? Que bom que ninguém me avisou
antes!”.
O
mesmo senhor vetusto que afirma essa barbaridade babava de satisfação com os
vazamentos sobre o suposto cartel de trens em São Paulo, que vinham do Cade —
cuja investigação, esta sim, estava e está protegida por sigilo. Que tipo de
gente é essa que cobra que se omita dos brasileiros o conteúdo de uma
investigação aberta, pública, e que se regozija com a divulgação ilegal de
informações? Eu respondo: é uma gente que pretende que petistas e, no geral,
esquerdistas estejam acima da moralidade comum e mereçam um tipo especial de
proteção.
Sempre
que leio um troço asqueroso assim, como aconteceu há pouco, fico com vergonha
em lugar da pessoa. Sobretudo porque o sujeito serviria para ser meu pai.
Coloco-me no lugar do suposto filho e fico com vergonha. Graças a Deus, o Rubão
nunca me fez passar por isso. Quem era o Rubão? Ora, o meu pai, que jamais
justificaria a ação de ladravazes e vagabundos só porque fossem seus amigos
ideológicos. Até porque não era amigo nem de ladravazes nem de vagabundos.
Ganhava a vida trocando molas de caminhão, como operário. Em vez de culpar os
outros por isso e por aquilo, ele preferiu me passar uma orientação: “Estude!”.
Daqui
a pouco, tentarão mandar o juiz Sérgio Moro para a guilhotina moral, como
fizeram com Joaquim Barbosa. Não que ambos sejam iguais ou operem com os mesmos
critérios. Nada disso! A única coisa que os une é tomar decisões que estão em
desacordo com o partido oficial e com seus porta-vozes oficiosos na imprensa.
Para essa gente, uma verdadeira indústria criminosa que estava em ação tem de
ser omitida para que ela não contamine a decisão do eleitor. Que caráter tem
uma pessoa que defende que a ignorância faz bem à democracia?
É
uma gente literalmente nojenta.
Por Reinaldo Azevedo
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